Tecnologias emergentes para ficar de olho em 2022

Tiago Rodrigo
8 min readJan 3, 2022

A velocidade com que as vacinas contra a COVID-19 foram desenvolvidas nos deu um indício dos avanços científicos recentes e de como a tecnologia pode potencializar (e acelerar) diversos projetos. Sendo assim, que outras iniciativas estão a caminho e podem transformar o mundo em 2022?

A revista The Economist preparou uma lista com 22 tecnologias emergentes para mantermos no radar e, mais do que isso, analisarmos como seus efeitos podem se desdobram tanto em nossa área de atuação quanto no conjunto de habilidades e competências que temos hoje.

1. Geoengenharia solar

Um tanto controversa, esta tecnologia observa os eventos provocados por vulcões para desenvolver técnicas capazes de resfriar a Terra. Em 1991, as cinzas e a poeira lançadas no ar pela erupção do Monte Pinatubo, por exemplo, esfriaram o planeta em 0,5ºC durante 4 anos. Em 2022, pesquisadores de Harvard esperam conduzir um experimento chamado SCOPEX (veja os detalhes aqui): o projeto vai lançar um balão na estratosfera contendo 2kg de carbonato de cálcio, que serão então espalhados no ar, permitindo ao grupo estudar como esse material dissipa, espalha e reage à energia solar.

2. Bombas de calor

O aquecimento de residências e comércios durante o período de inverno é responsável por cerca de 25% do consumo de energia global. Além disso, as tecnologias existentes em geral precisam de fontes como carvão, gás e óleo. A ideia das bombas térmicas, portanto, é oferecer um eletrodoméstico parecido com uma geladeira, porém funcionando de maneira oposta, gerando calor. Os projetos piloto existentes têm demostrado alta eficiência energética, produzindo 3kw de calor para cada kw de energia consumida. Empresas como a Gradient estão liderando estas pesquisas, nos EUA.

3. Aviões com propulsão de hidrogênio

Migrar automóveis para a matriz elétrica é uma coisa; fazer o mesmo com aviões é outra completamente diferente. Em julho de 2021, um dos poucos aviões elétricos autorizados para voos comerciais no mundo bateu um recorde, sobrevoando a região sul da Austrália (assista à reportagem completa da ABS Austrália aqui). Entretanto, este modelo ainda só é viável para aeronaves pequenas, e tem as mesmas complicações relacionadas ao ciclo de vida da bateria de outros setores. Pode ser, então, que a alternativa venha das células de hidrogênio.

4. Captura direta de elementos do ar

O dióxido de carbono é um dos principais elementos que provocam o aquecimento global. Por que então não usamos algum tipo de máquina para “aspirá-lo” do ar? Essa ideia, chamada DAC — acrônimo em inglês para direct air capture — está sendo testadas por algumas empresas e, em 2022, um grande centro de captura será construído no estado do Texas, com capacidade para “absorver” 1 milhão de toneladas de CO2 por ano. Veja aqui uma reportagem recente da BBC Future sobre esta tecnologia e seus desafios. Recentemente, discuti outras ideias para “controlar” o clima neste post do projeto “40 sinais de futuro”, item 19.

5. Fazendas verticais

Falei sobre elas no projeto “40 sinais de futuro”, item 31.

6. Navios-container movidos a vela

Navios produzem cerca de 3% das emissões de gases estufa no mundo. Além disso, o tipo de diesel usado também é responsável pela formação de chuvas ácidas. Nada disso era um problema séculos atrás, na era das embarcações a vela. É por isso que algumas empresas têm voltado às origens da navegação, propondo soluções que utilizam velas infláveis— como esta da Michelin, que promete reduzir o consumo de combustíveis fósseis em até 20%.

7. Treinamentos em realidade virtual

Comentei sobre as diversas formas de realidade virtual na resenha que escrevi sobre “AI, 2040 — ten visions for our future”, livro de Kai-Fu Lee & Chen Qiufan (item 05. My hauting idol). Segundo especialistas no tema, os desdobramentos recentes desta tecnologia podem chegar, em breve, às academias e prática de esportes.

8. Vacinas contra HIV e malária

Os avanços científicos obtidos durante o desenvolvimento de vacinas contra a COVID-19 prometem uma “era dourada das vacinas”. A Moderna, por exemplo, está utilizando a mesma tecnologia de mRNA para produzir uma vacina contra o vírus do HIV — o projeto já está nas fases iniciais de testes clínicos e os resultados devem surgir este ano. A BioNTech, por sua vez, tem seguido estratégia semelhante, porém focada no causador da malária.

9. Implantes ósseos fabricados por impressoras 3D

Já faz alguns anos que a Ciência tem trabalhado técnicas para criar órgãos artificiais que possam reduzir as filas de transplantes e simplificar processos cirúrgicos. Embora este objetivo ainda não esteja tão próximo no que diz respeito aos órgãos propriamente ditos, a impressão 3D de implantes ósseos já deve ter início em 2022. Empresas como a Particle3d e a A.D.A.M. (você pode inclusive investir nesta startup) obtiveram sucesso em testes laboratoriais com ratos e porcos, e logo devem iniciar os testes com seres humanos.

10. Táxis aéreos elétricos

Os chamados eVTOL (aeronaves elétricas de decolagem e pouso vertical, na sigla em inglês) devem ganhar os céus com múltiplos testes este ano. Dentre os vários projetos pelo mundo, a brasileira EMBRAER exibiu uma belíssima aeronave, mantendo-se na vanguarda desse mercado.

11. Turismo espacial

Falei sobre isso no projeto “40 sinais de futuro”, item 26: “Por que colonizar Marte importa a todos nós”.

12. Drones para delivery

Também controversas, como comentei nesta publicação, as entregas autônomas feitas por drones avançaram mais um passo no final do ano passado e devem se multiplicar em 2022, especialmente por conta das dezenas de milhões de entregas que já foram feitas até aqui. Esta ideia da empresa Wing, apresentada pela Interesting Engineering, é um exemplo disso.

13. Aeronaves supersônicas (quase) sem ruídos

Por mais de um século, cientistas se questionaram se seria possível reduzir o ruído supersônico das aeronaves apenas mudando seu design. As primeiras respostas vieram à tona recentemente, na medida em que super computadores passaram a executar bilhões de simulações desse tipo. Este ano, o projeto X-59 QUESST (acrônimo em inglês para tecnologia supersônica mais silenciosa), desenvolvido pela NASA, fará seu primeiro teste. Com emissões de ruído na casa dos 75 decibéis (cerca de 1/8 daquele produzido pelo Concorde), se tudo der certo, este pode ser o primeiro passo para que as restrições de aeronaves desse tipo sejam revogadas.

14. Casas fabricadas em impressoras 3D

Projeto de Yves Béhar para um conjunto residencial na América Latina.

A China foi pioneira construindo casas desse tipo e, agora, novos tipos de impressora 3D estão sendo projetados para erguer vizinhanças inteiras e em velocidade recorde — veja esta reportagem da CNN, sobre um projeto em curso nos EUA. No Brasil, tivemos a primeira casa 3D em 2020 e já há muitas iniciativas em andamento para replicar esse modelo. Como próximo passo, as empresas devem focar em técnicas mais sustentáveis.

15. Tecnologias e dispositivos para auxiliar no sono

Desde 2017, diversos dispositivos tecnológicos para melhorar a qualidade do sono têm ganhado o mercado. Em 2021, a própria Google lançou um tablet específico para isso, chamado Sleep Sensing e, este ano, a Amazon também deve anunciar o seu. Combinando iluminação, som e temperatura ambiente, elas monitoram movimentos enquanto estamos adormecidos e prometem contribuir para a saúde mental, assunto tão discutido ao longo da pandemia. Do lado mais radical, neurotechs (startups com soluções pautadas na Neurociência) têm trabalhado em implantes e wearables com as mesmas finalidades, mas a partir da emissão de leves impulsos elétricos — como comentei neste post (27) do projeto “40 sinais de futuro”.

16. Nutrição personalizada

Evidências apontam que cada pessoa tem um metabolismo único, de forma que sua dieta também o deveria ser. Com base nisso, tecnologias que aplicam técnicas de aprendizagem de máquina a fim de personalizar esquemas de nutrição a partir de amostras sanguíneas, do microbioma do intestino, estilo de vida e medição em tempo real dos níveis de açúcar do corpo estão sendo desenvolvidas e devem surgir no mercado em breve.

17. Monitores de saúde

Consultas médicas online estão cada vez mais comuns. E dispositivos para controlar nossa saúde em tempo real devem se popularizar também. Hoje já existem pulseiras, relógios e outros pequenos dispositivos que funcionam como monitores de práticas esportivas; mas funções como medição do nível de glicose do sangue, pressão arterial e temperatura já estão em testes. Em breve, teremos uma verdadeira clínica em nossos pulsos.

18. Metaverso

Falei sobre isso no projeto “40 sinais de futuro”, itens 07: “Metaverso, modo de habitar” e 32: “Construa seu próprio metaverso”.

19. Computação quântica

Comentei sobre o tema na resenha que escrevi sobre “AI, 2040 — ten visions for our future”, livro de Kai-Fu Lee & Chen Qiufan (item 07. Quantun genocide).

20. Influencers virtuais

Nos dois últimos anos, diversas marcas e empresas criaram seus avatares para interagir com clientes. Nos próximos anos, esse movimento desse ser ampliado, com uma série de personagens virtuais se tornando influencers. Atualmente, a mais famosa delas é a Miquela Sousa, ou “Lil Miquela”, uma influenciadora digital com mais de 3 milhões de seguidores em sua conta do Instagram.

21. Interfaces cerebrais

Falei sobre isso no projeto “40 sinais de futuro”, item 12: “É possível desenvolver novos sentidos?”.

22. Carne artificial bovina/de peixes

Atualmente, há mais de 70 empresas pelo mundo “criando” diferentes tipos de carne em biorreatores. A técnica usa células animais, que então são cultivadas em uma espécie de “sopa” — uma mistura de proteínas, açúcares, gorduras, vitaminas e minerais. Cada vez mais acessíveis e indistinguíveis de suas contrapartes “originais”, esses produtos devem ganhar escala em 2022, com um leque bem maior de opções. Startups como a Eat Just, por exemplo, já obtiveram aprovação das autoridades de Singapura para comercialização de seus produtos; a SuperMeat, de origem israelense, deve consegui-la também este ano, disponibilizando hambúrgueres de frango por cerca de 10 dólares (em 2018, custavam 2.500!); e a Finless Foods, com um atum bluefin de 400 dólares o quilo (custava cerca de 660.000, quatro anos atrás).

Quais dessas tecnologias podem afetar seu negócio, ou mudar o mercado em que você atua? E quais competências você precisará desenvolver para lidar com elas? Deixe suas reflexões nos comentários abaixo ;-)

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Tiago Rodrigo

Product Manager | Futures Thinker | Behavioral & Data Science