40 sinais de futuro [01 a 10]
Este projeto é uma contribuição com 40 sinais de futuro — isto é, tecnologias, transformações (sociais, culturais, de modelos de negócio, dentre outras) e tendências que despontam no presente, embora de maneira restrita ou experimental, mas que indicam possíveis caminhos que a humanidade pode tomar nos próximos anos.
Não se trata, em absoluto, de uma tentativa de prever qualquer coisa, mas de um exercício para pensarmos juntos oportunidades e riscos em relação ao porvir. Como diria Chen Qiufan, aclamado autor chinês de ficção científica:
“(…) para cada futuro que desejamos, devemos antes aprender a imaginá-lo.”
01 _ Cinco passos para pensar o futuro de forma estratégica
Imagine uma expedição arqueológica: várias pessoas escavando terrenos, realizando pesquisas, entrevistas e coletando materiais. Esses(as) “Indiana Jones”, contudo, não estão atrás de múmias ou tesouros escondidos por gerações passadas; mas, sim, de indícios sobre como será nossa vida daqui a algumas décadas.
Essa abordagem é uma das bases do chamado “pensamento futuro” (Futures Thinking), técnica que nos permite vislumbrar oportunidades e nos preparar em relação ao porvir.
Mais do que planejamento, é um exercício estratégico para entender caminhos e desdobramentos, e como nos posicionar nesse processo.
No artigo abaixo, faço um panorama sobre o tema, além de compartilhar algumas ferramentas simples, porém poderosas, para exercitar a mente nessas projeções. Ao longo dos próximos 40 dias (que dá exatamente no 31-dez), também trarei sinais e tendências interessantes para manter no radar e, principalmente, provocar reflexões #40sinaisdefuturo
Algumas das referências que utilizo relacionadas ao tema: GeekWire, Institute for the Future, Interesting Engineering, Medical Xpress, O Futuro das Coisas, TechCrunch, WIRED.
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02 _ Internet das coisas e a disputa de preços entre o hortifruti do bairro e… um liquidificador?!
Aos poucos, a IoT tem ganhado espaço e cada vez mais dispositivos e eletrodomésticos estão sendo conectados à rede. Com isso, novas possibilidades de interação despontam no horizonte — inclusive aquele logo ali, na cozinha de sua casa.
Em um relatório entitulado “Seis artefatos do futuro da alimentação” [tradução livre], alguns futuristas do Institute for the Future discorrem sobre possibilidades dentro desse universo digital. Dentre elas, a transformação de aparelhos domésticos em agentes de negociação de produtos (quase um corretor de bolsa de valores):
Imagine seu liquidificador, que acabou de encontrar e baixar uma nova receita de smoothie, começa a pesquisar preços de mirtilos em diversos distribuidores próximos de sua residência.
Como outras pessoas com o mesmo equipamento também estão conectadas e rastreando a melhor oferta, essa simplesmente desaparece, na medida em que hortifrutis, supermercados e sacolões “percebem” o aumento das buscas e ajustam os preços para cima.
Como resolver essa disputa? Saiba mais no artigo.
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03 _ Podemos confiar naquilo que vemos?
A manipulação de imagens, áudios e vídeos não é algo novo. A própria indústria cinematográfica já se beneficiou dessas técnicas em diversas ocasiões: em 1994, quando Forrest Gump apareceu dando a mão ao presidente Kennedy; e em 2015, quando Paul Walker foi inserido na cena final de “Velozes & Furiosos 7” (alerta de spoiler), para citar duas cenas famosas.
Entretanto, a tecnologia tem avançado de tal forma que, muito em breve, será extremamente difícil identificar um vídeo forjado — inclusive para os próprios computadores!
Os chamados deepfakes (“deep” vem de “deep neural network”) são produzidos por algoritmos que aceleram e aperfeiçoam um trabalho antes manual e demorado: a partir de uma série de elementos, eles recriam ou constroem conteúdos que, de outra forma, teriam de ser manipulados quadro a quadro — no Photoshop, por exemplo. Saiba mais sobre o processo aqui.
No livro “AI 2041: ten visions for our future”, Kai-Fu Lee & Chen Quifan trazem um cenário fictício sobre grupos políticos que usam figuras históricas a fim de manipular a opinião pública. O conto nos provoca acerca dos impactos gigantescos que o uso de tal tecnologia pode desencadear.
No estágio atual, as chamadas GAN (generative adversarial networks) já permitem a projeção de movimentos labiais e faciais de um indivíduo em outro, produzindo vídeos com altos níveis de verossimilhança. Mais ainda, pesquisadores de Stanford criaram uma técnica que permite a qualquer pessoa, a partir de uma webcam convencional, projetar seus próprios movimentos em vídeos alternativos — em tempo real!
O assunto já está no radar de diversas associações, que temem a escalada de desinformação: imagine se fatos verídicos começarem a ser questionados, na medida em que os deepfakes tornarem qualquer vídeo suspeito? Nosso viés de confirmação pode desempenhar um papel chave, aumentando a gravidade da situação.
Uma das abordagens para enfrentar esse desafio são as camadas de verificação: quando algum usuário faz o upload de um determinado conteúdo, tanto redes sociais quanto sites de streaming executam um processo de adaptação de formato (“re-encoding”). Neste momento, a camada adicional poderia agir, identificando nuances e indícios de manipulação.
A discussão sobre o tema é ampla e importante. Por isso, compartilhei diversos links interessantes nos comentários, para quem quiser se aprofundar.
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04 _ É possível “construir” o rosto de uma pessoa a partir de sua voz?
Esse foi o desafio que a equipe do Speech2Face assumiu. Por meio de redes neurais, os cientistas treinaram seu algoritmo com uma base de 100.000 falas distintas em milhões de vídeos educacionais disponíveis no YouTube.
Seu objetivo: aprender a identificar e associar certas nuances vocais a características físicas. O resultado, evidentemente, não são rostos “reais” de pessoas, mas uma versão mais genérica que indica gênero, idade e etnia.
A pesquisa ainda possui uma série de limitações. Por exemplo: a voz de um homem asiático foi associada a um rosto chinês quando ele falava mandarim, mas a um homem branco ocidental, quando ele falava inglês.
O estudo foi ainda alvo de polêmicas, já que possui uma série de vieses que podem reforçar preconceitos e estereótipos. Um deles, por exemplo, está associado ao timbre: vozes mais graves eram sempre associadas a homens, enquanto as mais agudas, a mulheres.
Neste artigo é possível ver alguns dos resultados. O estudo segue em andamento.
Para manter no radar: há dezenas de startups trabalhando cases relacionados ao reconhecimento de voz. Seja para conectar pessoas, oferecer experiências de interação mais agradáveis com bots, ou até soluções para indústrias específicas, o caminho é amplo e promissor. Algumas delas:
- AssemblyAI: oferece uma API para transcrição de vídeos, podcasts, chamadas telefônicas e reuniões remotas, e capaz de identificar e filtrar conteúdos ofensivos e discursos de ódio.
- Babbly: acompanha o desenvolvimento da fala e utilização da linguagem em bebês.
- conversationHEALTH: plataforma de IA voltada para a área de saúde, que aprimora diálogos e interações entre médicos/pacientes, e dentre profissionais pesquisadores(as) e cientistas.
- My Voice AI: usa técnicas de aprendizagem de máquina para detectar emoções, analisar sentimentos e avaliar as características do(a) interlocutor(a). A ideia é usar a tecnologia em apps de serviços, permitindo o compartilhamento seguro e rápido entre usuários(as).
- Talkatoo: software direcionado para profissionais do campo veterinário, possui diversas funções de transcrição voz-para-texto, a fim de apoiar rotinas.
- Vowel: usa algoritmos para transcrever reuniões e transformá-las em lembretes, notas, listas, compromissos de calendário, dentre outras funcionaliades.
- No Brasil, me chamou atenção a Vox Me, uma plataforma de inteligência artificial para pedidos ajuda por comando de voz. A solução dispara ligações telefônicas e SMS para contatos do usuário em perigo, além de compartilhar sua localização e o motivo da emergência (acidente, queda de idosos, assédio, localização de filhos adolescentes etc).
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05 _ Realidade virtual pra quê? As montanhas russas do futuro poderão levitar em trilhos magnéticos, como os trens bala
Ainda que a perspectiva de ambientes totalmente digitalizados — o tal do metaverso de que se passou a falar tanto, recentemente — seja cativante, as experiências físicas ainda devem ser responsáveis por turbinar a adrenalina de frequentadores(as) dos parques de diversão.
É o que indicam alguns especialistas no assunto, como nesta reportagem da Independent, nestas elucubrações de Arthur Levine, para a USA Today e nas projeções da WIRED.
A ideia é transpor para o ambiente da diversão tecnologias que hoje encurtam distâncias entre grandes cidades, mundo afora. Em julho deste ano, por exemplo, a China inaugurou o trem mais rápido do mundo — assita ao vídeo de inauguração aqui— , capaz de viajar a 600km/h. Para fins de comparação, um avião comercial de longa distância em média voa entre 800–920 km/h.
A tecnologia que permite a façanha é chamada de SCMagLev , que significa levitação magnética por supercondutores, em inglês.
Só pra constar: hoje existe a profissão de “Roller Coaster Designer”. Nos próximos anos, ela deve se mesclar com a de Designers / Arquitetos(as) de ambientes 3D e com a UX.
E para quem gosta de vivenciar a experiência: vídeo de uma viagem a 430 km/h dentro do maglev de Shanghai.
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06 _ É possível “ignorar a função dos olhos” e estimular o cérebro diretamente para enxergar algo?
Esta foi a hipótese que mobilizou um time de cientistas espanhóis.
Embora desde 2008 haja protótipos de retinas artificiais sendo testados — eles são fabricados a partir de camadas finas de ouro pixeladas com tinta orgânica própria de cosméticos e tatuagens (veja o paper aqui), este grupo buscava uma abordagem diferente, mais eficaz.
A nova tecnologia também funciona como uma retina artificial. Porém, acoplada a um par de óculos que detecta sinais de luz em seu campo visual e os converte em impulsos elétricos transmitidos para um eletrodo no cérebro do paciente.
O experimento foi realizado inicialmente com primatas e, este ano, com o primeiro ser humano: uma mulher de 57 anos, que há 16 havia perdido completamente sua visão.
Os resultados são promissores: após um breve período de treino e adaptação, ela pôde identificar letras e silhuetas de vários objetos. O trabalho, publicado no Journal of Clinical Investigation abre espaço para novas rodadas que vão testar maiores quantidades simultâneas de estímulos, capazes, talvez, de produzir imagens mais complexas.
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07 _ Metaverso, modo de habitar
Um post dedicado a você, que nunca ouviu falar de Roblox, Engenharia de Omniverso e avatares orientados a inteligência artificial
Diversas personalidades públicas, especialmente do mundo da música, já ativaram seu modo metaverso, desenvolvendo avatares de si mesmas e promovendo eventos exclusivos no mundo digital.
Um dos primeiros desse tipo aconteceu dentro do jogo Fortnite, em 2019, seguido pelo show “Astronomical”, do rapper Travis Scott, que reuniu mais de 12 milhões de fãs, além de arrecadar cerca de US$ 20 milhões (o que representa cerca de 37% do que ele faturou com sua turnê inteira, no ano anterior).
Post Malone, Ariana Grande e, mais recentemente, Justin Bieber e Ed Sheeran — o primeiro artista a aparecer no universo do PokémonGO — se juntaram à lista.
Além dos shows, eventos também têm migrado para o metaverso. A edição de 2021 do SXSW — um festival que reúne cinema, música e tecnologia e ocorre em Austin, Texas -, e que acabou sendo sacrificada pelas restrições de deslocamento da pandemia, por exemplo, foi substituída por um espetáculo digital com 10 dias de duração.
A grande vantagem desse ambiente é ampliar a experiência de um mero(a) observador(a) para a de alguém que pode criar, fazer, interagir, sentir-se realmente parte do evento. Iniciativas desse tipo, e o sucesso que elas têm obtido, evidenciam um novo formato que deve estar no radar de profissionais da área de eventos — vide, por exemplo, o Roblox.
O que mais está acontecendo?
- na Coreia do Sul, o governo de Seul está planejando uma versão digital da cidade, com direito à prefeitura, locais turísticos, serviços sociais, dentre outras possibilidades. Isso faz parte do projeto “Seoul Vision 2030”, cujo piloto tem início na virada do ano;
- Engenheiros de Omniverso têm ajudado empresas a construir fábricas e laboratórios inteiros em formato digital, a fim de oferecer um ambiente de simulação, antes de transpor processos e produtos para o mundo real. Ericsson e BMW são algumas pioneiras na utilização dessa tecnologia;
- startups como Inworld AI e Synthesis AI estão se dedicando à criação de uma IA para personagens de mundos virtuais. A ideia é “povoar” esses ambientes de maneira interativa. Para isso, estudam técnicas que possam simular habilidades cognitivas
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08 _ RPA: automatizando a rotina de trabalho
A sigla RPA, em inglês, se refere à automação de processos robóticos, isto é, uma espécie de software-robô instalado nos computadores, que assistem a todo o trabalho executado nessas máquinas.
Com o tempo, essa função inicialmente passiva ajuda o algoritmo a “entender” a lógica e a sequência do trabalho sendo executado, a ponto de assumir o controle de tarefas rotineiras e repetitivas. Na medida em que esse processo avança, as empresas podem decidir manter profissionais humanos ou substituir suas funções por esses “robôs”.
Em “AI 2041: ten visions for our future”, Kai-Fu Lee e Chen-Quifan exemplificam a tecnologia em um de seus contos: imagine um departamento de R&S com 100 profissionais. A princípio a RPA pode ser usada para “ler” CVs de candidatos(as) e comparar suas competências aos requisitos de uma determinada vaga. Supondo que 20 pessoas executem essa função, e que a automação possa avaliar candidaturas duas vez mais rápido (e mais eficaz), isso significaria 10 pessoas cuja função deixa de fazer sentido nessa empresa. Aos poucos, e conforme o software recebe mais dados e “ganha experiência”, ele poderá “aprender” etapas subsequentes do processo, assumindo a comunicação com candidatos(as), organização de entrevistas, cordenação de feedback, decisões de contratação e até algunas aspectos mais gerais de negociação salarial e de benefícios. Em seguida, poderia ser estendido a questões relacionadas a treinamentos, onboarding e avaliação de performance.
Este vídeo explica de forma didática o conceito, que se desdobra em quatro fases para:
- identificar processos que serão automatizados;
- desenvolver workflows de automação
- testar a solução, e
- implantar ciclos de manutenção contínua
Alguns dos RPAs mais usados, inclusive no Brasil: Automation Anywhere, blueprism, PEGA, UiPath — este último o mais popular, com cerca de 36% do mercado.
Segundo relatório da Gartner, as receitas com este tipo de software devem atingir US$ 1.89 bilhão de dólares em 2021, um crescimento de 19,5% em relação a 2020.
A COVID-19 acelerou a automação de fluxos de trabalho, fazendo com que esssas tecnologias se desenvolvessem mais rapidamente e se tornassem mais simples de serem implantadas.
Pensando no que você faz hoje: seu trabalho pode ser automatizado por uma RPA?
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09 _ Energia elétrica ilimitada
E-mails, jogos, aplicativos… Muita coisa hoje pode ser usufruída gratuitamente, na internet. Em pouco tempo, as empresa perceberam que os dados de seus clientes eram muito mais valiosos do que simplesmente vender ou cobrar mensalidades.
Mas e se, no futuro, também a energia elétrica se tornar ilimtada?
Do mesmo modo que as empresas de telecom migraram de um modelo de contagem e cobrança de chamadas telefônicas e dados de navegação para pacotes com uso ilimitado, as de energia podem seguir esse caminho.
Essa proposta surgiria, inicialmente, através do comodato com dispositivos inteligentes que capturam dados de consumo e características dos produtos conectados à rede elétrica. Grandes empresas do setor, como a Centrica, já possuem ofertas semelhantes a essa, no Reino Unido, enquanto a Exelon e a General Electric estabeleceram diversas parcerias com fabricantes desses dispositivos, nos EUA.
Se as redes sociais faturam com o direcionamento de anúncios, as distribuidoras de energia lucrariam ao tornar suas operações mais eficientes, prevendo variações na demanda e redirecionando o excedente para projetos específicos.
Algumas pessoas talvez suponham que pacotes de energia desse tipo aumentariam o desperdício. Na verdade, os efeitos podem ser justamente opostos — é o que sugere William Welser, CEO da Lotic.ai, em matéria para uma edição especial da revista Wired: por meio de produtos e serviços complementares, essas empresas teriam condições de incentivar o consumo consciente, alterando o horário de uso dos eletrodomésticos mais “pesados”, como lava-louças e secadoras, e reduzindo assim a carga sobre o sistema. Ademais, os dados trariam insights para aprimorar e até repensar como nossas casas funcionam.
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10 _ Roda do futuro
Neste artigo, descrevo e exemplifico a “roda do futuro”, um framework para exercitar o pensamento futuro por meio de desdobramentos em diferentes níveis.
Idealizado por Jerome Glenn no início dos anos 70, o modelo foi difundido e adaptado desde então, sendo cada vez mais empregado — inclusive no desenvolvimento de células / laboratórios de pesquisa e inovação.
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