40 sinais de futuro [11 a 20]

Tiago Rodrigo
12 min readDec 11, 2021

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Continuação do projeto “40 sinais de futuro”. Para acompanhar o conteúdo dos 10 primeiros , clique aqui.

11 _ Duas décadas no futuro: inteligência artificial e ficção científica

AI 2041: ten visions for our future é fruto da parceria entre Kai-Fu Lee, empreendedor e especialista em tecnologia, e Chen Qiufan, premiado autor de ficção científica.

Juntos, eles constróem pequenas narrativas que trazem perspectivas instigantes sobre os avanços da inteligência artificial nos próximos vinte anos.

Seu objetivo é discutir cenários hipotéticos, mas cujas bases tecnológicas, de alguma forma, já existem atualmente, além de seus impactos para a sociedade.

Lançado em setermbro deste ano, é uma leitura agradável e provocadora, mas que deve ser lida com o olhar da curiosidade, a fim de que possamos vislumbrar o futuro em suas oportunidades, em vez de somente julgá-lo como factível ou não.

Deixo aqui os dois artigos que preparei sobre ele:

Parte 1

Parte 2

Aproveito também para compartilhar um resumo de aprendizados feito pelo Cristiano Kruel, Chief Innovation Officer da StartSe.

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12 _ É possível desenvolver novos sentidos?

Demonstração do projeto Doppelgänger III, uma instalação audiovisual que explora a ideia de autoconsciência. Nela, o “espelho” do mundo virtual reflete os corpos e atividades psicológicas de quem está usandoo dispositivo. Mais sobre o projeto aqui.

Essa provocação, levantada por David Eagleman, Neurocientista e Professor na Universidade Stanford, tem origens muito específicas. Acompanhe o raciocínio:

Nosso cérebro está “trancado” em perfeito silêncio e escuridão, dentro da caixa craniana. As únicas coisas que chegam até ele são sinais elétricos e químicos, vindos de células especializadas.

Logo, o cérebro não “ouve”, não “enxerga” e não “sente” nada. Ondas sonoras de uma música instrumental, padrões de luz em uma paisagem exuberante, uma picada de abelha — tudo isso é levado até ele sob a forma de impulsos elétricos que, de maneira geral, são bem semelhantes (Eagleman trata este ponto em “The brain — the story of you”, de 2017).

Mas, então, por que ouvir, enxergar e sentir são experiências tão diferentes? Por que não confundimos a beleza de um girassol com o sabor de um queijo gorgonzola ou um solo de guitarra?

Esta pergunta ainda não foi completamente respondida pela Neurociência. Contudo, uma hipótese foi levantada: talvez, nossa experiência acerca dos sentidos (#qualia) seja determinada pela estrutura dos dados recebidos. Por exemplo: dados bidimensionais vindos da retina podem ser diferentes de dados unidimensionais vindos do tímpano, e de dados multidimensionais vindos de receptores táteis, como a ponta dos dedos.

Se isso for verdade, expor nosso cérebro a novas estruturas de #dados pode fazer com que ele desenvolva interpretações e experiências completamente novas — novos sentidos.

Pensando nos caminhos cada vez mais híbridos entre tecnologia e nossa própria biologia, essa possibilidade não é tão absurda. Vide, por exemplo, o trabalho de pesquisa realizado por startups com foco em Neurociência (detalhes abaixo).

Da realidade aumentada, para a humanidade aumentada?

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- Dreem: neurotech surgida na França, que desenvolveu um dispositivo de monitoramento do sono, capaz de analisar as atividades cerebrais e emitir sinais sutis que aumentam a qualidade do descanso;

- HaloNeuroscience: desenvolveu um dispositivo que emite leves sinais elétricos no cérebro, a fim de aumentar a eficiência dos treinos físicos. O produto se baseia no conceito de #neuropriming , ou seja, usa esses estímulos elétricos para aumentar a plasticidade cerebral antes de uma atividade. Em 2018, a empresa fechou uma parceria com o time nacional de ciclistas dos EUA;

- Neurable: está desenvolvendo interfaces cérebro-computador, que permitam às pessoas controlar softwares e dispositivos apenas usando atividade cerebral;

- Neuralink: fundada por Elon Musk, seu objetivo é tornar a inteligência artificial uma extensão do cérebro humano;

- NextMind: neurotech francesa focada no desenvolvimento de sensores que permitam o envio de comandos para periféricos a partir de pensamentos. Seu objetivo é promover uma nova experiência em jogos e simuladores, mas aplicações úteis já despontam em paralelo com o metaverso (quem perdeu o assunto, acesse aqui);

- Thync: criou um aparelho que é acoplado na nuca e emite estímulos elétricos para reduzir o estresse

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13 _ Empresas adquirem robôs em número recorde

O mês de novembro marcou um novo recorde em termos de #automação e #robótica: nunca as empresas fizeram tantos pedidos desse tipo. Ao longo de 2021, e só nos EUA, foram mais de 29.000 — ou cerca de US$ 1,5 bilhão investidos. No comparativo anual, esse número representa um aumento de 37%.

Tempos atrás, um relatório do Fórum Econômico Mundial projetou que cerca de 85 milhões de postos de trabalho seriam encerrados até 2025, devido à automação; mas que outros 97 milhões seria abertos… também devido à automação.

O descasamento entre as características de um e outro, contudo, ainda é um ponto de atenção.

De um lado, temos oportunidades excepcionais, como demonstra o DAWN (Diverse Avatar Working Network), um café em Tóquio cujos atendentes são todos robôs. Estes, por sua vez, são controlados remotamente por pessoas que possuem limitações físicas severas. Chamadas de “pilotos”, elas recebem em casa todo o aparato tecnológico produzido pela OryLab para que entendam o conceito, sejam treinadas a executá-lo e, finalmente, possam servir clientes. O local é um sucesso.

Por outro, e desde 2017, Yuval Harari já alerta para a “ascensão de uma classe de inúteis” (“useless”, no original em inglês). Inúteis no sentido de que 99% das habilidades humanas são redundantes para se executar a maioria das funções de trabalho modernas.

Em uma curiosa provocação, ele atribui isso não apenas à modernização e ao aumento da capacidade de processamento das máquinas, mas também ao processo de profissionalização das pessoas. Seria muito mais difícil à inteligência artificial produzir um sujeito caçador-coletor, tal como nossos ancestrais, do que um trabalhador altamente especializado do séc. XXI.

Não deixe de ler o artigo completo.

Sério! Não deixe mesmo! ;-)

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14 _ Chamada para projetos!

Você ou alguma amiga sabe construir um reator nuclear que processa Urânio, pesa menos de 6 toneladas e cabe em um foguete de 4m x 6m?

Se a resposta foi sim, a NASA acabou de abrir uma concorrência para desenvolver sua primeira usina nuclear na Lua. O projeto deve ser finalizado até 2030.

O objetivo é transformar nosso satélite em uma base para explorar o espaço — de lá, missões tripuladas para Marte, por exemplo, seriam mais curtas e baratas -, e faz parte da iniciativa Artemis, que buscar retomar a presença humana na Lua, de forma sustentável, até o final desta década.

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15 _ De assistentes virtuais a consultores estratégicos

Alexa, GoogleNow, Siri… o que podemos esperar dos assistentes virtuais? Em um futuro não tão distante, esses substitutos (“surrogates”, em inglês) ganharão funcionalidades para além do mundo digital. Com base nos dados coletados a respeito de seu comportamento, hábitos e interesses, eles poderão tomar decisões em seu nome.

Ray Dalio, CEO de um dos maiores hedge funds do mundo, incumbiu seu time de pesquisadores na Bridgewaters com a tarefa de criar um algoritmo capaz de replicar seus princípios pessoais aos processos de tomada de decisão da empresa: contratações, demissões, análise de investimentos e resolução de conflitos, por exemplo.

Na mesma linha, a startup Replika desenvolve “amigos(as) digitais” que usam IA para aprender com publicações e conversas em aplicativos de seus(suas) usuários(as). A partir daí, ela cria um estilo de comunicação compatível com o seu, gerando interações mais profundas — o slogan da empresa é “the AI companion who cares”.

Outras possibilidades:

- utilizar esses assistentes para expandir negócios: aptos a fazer pitch, negociar contratos e produzir press releases, é (quase) como ter um time extra, disponível 24/7;

- as cidades de Pittsburgh e Hangzhou reduziram em até 25% os congestionamentos ao utilizar algoritmos para planejar o ciclo de semáforos. O Google, por sua vez, diminuiu em 40% os custos de resfriamento de seus data centers, após diagnóstico feito pela DeepMind. Cada vez mais, algoritmos funcionarão como “consultores estratégicos”;

- uma inteligência de reconhecimento desenvolvida pela #Baidu conseguiu reunir uma família, cujo filho havia desaparecido há 27 anos. Usando técnicas de “envelhecimento” baseada nas características dessas pessoas, o resultado ajudou a polícia de Chongqing a encontrá-lo;

- recentemente, o Descartes Lab anunciou um projeto de alto impacto: a partir de dados coletados por satélites, eles pretendem prever períodos de escassez de alimentos ocasionados por fatores climático

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16 _ Relacionamentos, tecnologia, sextech

Se hoje temos lâmpadas, campainhas, geladeiras e assistentes virtuais inteligentes (para citar apenas alguns), era só uma questão de tempo para que a tecnologia encontrasse seu caminho no contexto dos relacionamentos e da intimidade.

Em 2020, o mercado de sextech movimentou cerca de US$ 30 bilhões — alavancado, em parte, pelo distanciamento social. Até 2026, espera-se que atinja US$ 52,7 bilhões.

Lideradas majoritariamente por mulheres, essas empresas têm colaborado para ampliar o debate sobre questões que envolvem educação e saúde sexual, crimes, abusos e identidade de gênero. Dentre elas, Bryony Cole, que possui diversas palestras populares.

Em termos de produtos, as inovações também se baseiam em dados para oferecer experiências imersivas e, sobretudo, personalizadas — seja por meio de aplicativos, gadgets, ambientes de realidade virtual ou até sex bots (tais como o projeto Harmony, iniciado em 2017).

Com o advento de aparelhos hápticos (que simulam o sentido do tato), esse mercado também passa a abarcar questões ligadas ao isolamento social e à solidão. A HugShirt, por exemplo, permite que duas pessoas distantes troquem abraços entre si: a camisa simula o toque, a duração, o calor e até a frequência cardíaca de quem está “enviando” o abraço.

Para os(as) fãs de ficção científica, a Gatebox lançou recentemente uma espécie de assistente virtual em formato de anime que, além de funções análogas às da Alexa, desempenha um papel mais emocional, fazendo companhia às pessoas. Veja aqui o vídeo de demonstração.

A despeito do formato de anime, a tecnologia da Gatebox preenche uma lacuna importante, agravada pelo distanciamento social, mas que já despontava antes da pandemia: o mundo vive uma crise profunda de solidão.

Os impactos psicológicos, emocionais e, especialmente, sobre os relacionamentos “de verdade” provocados pelas inovações do ramo ainda estão sendo estudos. Fato é que as oportunidades decorrentes da realidade estendida — ou “XR”; falei dela aqui — são enormes.

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17 _ O futuro, de trás pra frente

A ordem dos fatores não altera o produto?

Quando o assunto é inovação, pensar de trás para frente pode, de acordo com alguns estudos, gerar resultados mais criativos, além de reduzir a ansiedade do time com relação ao tempo.

Neste artigo, comento a técnica “O futuro, de trás pra frente”, usada em programas desse tipo, bem como em iniciativas de Futures Thinking e Future Studies.

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18 _ Smart toilets: privacidade por água abaixo ou oportunidade de negócios?

Em artigo recente para o The Guardian, Emine Saner trouxe à tona (ou abaixo, se preferir) uma discussão interessante: há cerca de uma década, Sonia Greco, diretora do laboratório de pesquisas em Smart Toilets (!) da Duke University, estuda formas de aproveitar os valiosos dados biológicos que inutilizamos ao pressionar a descarga.

Dessa iniciativa surgiu a Coprata, empresa que está desenvolvendo um vaso sanitário inteligente, usando sensores e IA para analisar os dejetos humanos. (O projeto deve ser concluído em cerca de nove meses.)

Segundo Greco, a privada que temos hoje em casa é basicamente a mesma desde sua invenção, na segunda metade do séc. XIX. E considerando todas as ferramentas de análise de dados disponíveis, ela poderia evoluir, tornando-se um poderoso dispositivo para monitorar nossa saúde.

Por exemplo: a partir de pequenas amostras, seria possível detectar certos tipos de câncer, inflamações e doenças crônicas. Avançando ainda mais um estágio, disporíamos de informações para receber recomendações de dieta personalizadas: dados como deficiência de fibras e vitaminas, prática de exercícios e qualidade do sono podem ser capturados, inclusive por meio da urina.

Por fim, as informações abasteceriam também relatórios médicos, facilitando decisões sobre quando iniciar / encerrar um tratamento, além das dosagens de remédios.

Em 2018, a Panasonic já havia lançado um Smart Toilet na China capaz de monitorar a gordura corporal. Este ano, e durante a Consume Electronics Show, a fabricante japonese Toto exibiu um conceito que analisa níveis de estresse e sugere hábitos saudáveis a fim de amenizá-lo.

Seguradoras também estão de olho nesses avanços: você estaria disposto(a) a compartilhar dados tão… íntimos… a fim de um desconto na apólice?

Algo a se pensar.

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Inspire-se com mais opções de vasos sanitários inteligentes aqui: https://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-6580271/Game-thrones-Intelligent-toilets-rage-CES-2019.html — há opções por até 13.000 dólares.

Sim: treze mil DÓ-LA-RES.

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19 _ Novas ferramentas para “controlar” o clima

Em julho, o governo chinês usou técnicas de controle de #clima para “limpar os ceus” durante as celebrações do Partido Comunista. As informações foram levantadas pela Universidade de Beijing e apontam que isso contribuiu também para amenizar a poluição do ar durante o evento.

Esse tipo de tecnologia, chamado #blueskying, tem ganhado cada vez mais a atenção de governos e empresas mundo afora. Hoje, estima-se que só a China tenha investido cerca de US$ 1.3 bilhão nela, na última década.

A prática, contudo, não é novidade: durante a Guerra do Vietnã, por exemplo, os EUA utilizaram estratégia semelhante para estender o período de monções na região, e assim dificultar a movimentação dos vietcongues. Entretanto, de lá pra cá novas tecnologias e aparelhos foram desenvolvidos, e hoje são usados por vários países. Por exemplo:

  • ainda na China, autoridades locais têm usado cápsulas de iodo em frentes meteorológicas, reduzindo em até 70% os danos provocados pelo granizo;
  • nos Emirados Árabes Unidos, cientistas usam drones para pulverizar iodeto de prata em nuvens do tipo cumulus para reduzir a temperatura e provocar chuvas ;
  • nos EUA, a empresa Idaho Power deu início a um projeto semelhante para “semear” nuvens e criar neve, que vai se derreter ao longo de 2022 e (em teoria) ajudar a amenizar a seca história que a região vem sofrendo

Especialistas, no entanto, acreditam que tal componente químico pode ser tóxico, especialmente para as espécies marinhas. Enquanto não temos uma análise mais profunda e regulamentações, a indústria tem crescido 6,8% ao ano.

No futuro, conseguiremos ter mais controle sobre o clima? E qual será o trade-off dessas ações, já que os efeitos em escala global são muito difíceis de serem mensurados?

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20 _ Smart Cities, Sociedade 5.0 e o Oxagon saudita

A Sociedade 5.0 é a resposta para um mundo de distopia que acaba sendo projetado muitas vezes quando falamos da Indústria 4.0. É um novo modelo — econômico, social, de vida — em que as pessoas se integram aos avanços tecnológicos, direcionando esforços para o bem-estar da humanidade. Qualidade de vida e resolução de problemas sociais, portanto, são os dois principais tópicos nessa agenda.

Esse conceito surgiu no Japão, como parte de um projeto de políticas de inovação para os anos de 2016 a 2021, e hoje já faz parte da discussão de diversos governos mundo afora.

O modelo busca prover os serviços necessários para o bem-estar a qualquer hora, em qualquer lugar e para qualquer pessoa. E isso acontece graças ao planejamento de cidades totalmente conectadas, nas quais o ciberespaço se integra de maneira harmônica com o mundo físico — as chamadas Smart Cities ou cidades inteligentes.

Nessa linha, a Arábia Saudita anunciou recentemente um projeto ambicioso: Oxagon, um complexo industrial flutuante sobre o Mar Vermelho. Liderado pelo Príncipe Mohammed bin Salman, seu objetivo é ressignificar a maneira como as indústrias são estabelecidas, baseando-se primordialmente em tecnologia e inteligência artificial, e promovendo crescimento de forma sustentável.

Assista ao “teaser” do projeto aqui.

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Acesse o artigo com a 3ª parte do projeto (posts 21 a 30) aqui.

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Tiago Rodrigo
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Written by Tiago Rodrigo

Product Manager | Futures Thinker | Behavioral & Data Science

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