Miguel de Unamuno _ Névoa (1914)
À guisa do Romantismo clássico, “A névoa” (1914), de Miguel de Unamuno, narra um amor não correspondido — uma rejeição sagaz, na verdade. Augusto Pérez, jovem rico, corteja a jovem professora de piano Eugenia, a quem vislumbrou numa “aparição fortuita”, seguiu pelas ruas e se apaixonou.
“E o que é estar apaixonado, senão acreditar que se está assim?” (pg. 64)
De fim trágico, já antecipado na primeira página do prefácio — jeito antigo de dar spoilers — , a história aos poucos assume ares experimentais, arrojados para o ano de publicação, culminando numa metalinguagem existencial em que personagem e autor dialogam sobre livre-arbítrio [anote aí: sinalagmatismo].
Mais do que o affair em si, trata-se de um ensaio sobre a luta, humana e universal, a respeito da liberdade — eventualmente, a realidade é algo íntimo da qual só depende a vontade.
Porém, qual? E de quem?
Por anos extinto no Brasil, o exemplar lido é uma raridade achada em sebo, comentada e guardada pela Marília, que ma emprestou sob olhares apreensivos, sabendo de gatas, criança e copos cujo líquido por vezes se derrama — ameaças incontinenti à integridade, já amarelada, do livro.
Sobreviveu!